RETRATOS NA CASA DE FAMÍLIA
Quem olhe apenas para os móveis, os quadros, etc.
vê que estes correspondem a um passado anterior ao nascimento dos habitantes
desta casa. Não estão, no entanto, dispostos como numa
casa-museu. Esta, é uma casa viva, habitada, uma casa que
respira. Nela, os objectos funcionam como pontes lançadas ao mundo dos
antepassados. Estes entes queridos continuam a existir, por
dentro da mente; eles partilham esta casa connosco, naturalmente.
Assim se pode viver, no meio de fantasmas, não no
sentido trivial, mas etimológico do termo. Eles manifestam-se sob forma
de retratos, de belíssimos retratos, que projectam olhares de tranquila e
penetrante simpatia.
Bem se poderia raciocinar que um determinado olhar e
expressão do rosto, tão perfeitamente captados, fossem dirigidos ao pintor, ou
a alguém que estivesse no campo de visão da pessoa
retratada. Mas o facto é que a presença humana que se desprende de tais quadros é
palpável. Quando contemplados, eles contemplam de volta o observador.
RETRATO I
Talvez o mais especial, para o autor deste blog, seja o pequeno
quadro a óleo pintado
pelo tio-avô, quando o sobrinho-neto tinha apenas seis anos: um rosto
infantil, com um olhar sério e calmo, confiante.
Que estaria esta criança pensando, no
momento em que foi retratada? - Na verdade, o olhar vindo do interior do
quadro, do passado, dá-lhe um sentido de coerência e de
totalidade.
Porém, só muito tarde o Manuel teve consciência deste e de
outros fenómenos. Distraído pelos afazeres da vida, triviais ou não, tinha
ignorado aquela evidência! Ela tinha permanecido literalmente à frente dos seus
olhos, durante várias décadas.
Um dia, por acidente, o pequeno quadro foi danificado,
ficou com um rasgão. Foi necessário um restauro.
O restauro disfarçou o rasgão, mas alterou as subtis tonalidades da pele do rosto retratado. Presente no espaço familiar, o retrato deste menino de seis anos tem desempenhado um papel silencioso: o olhar da criança, perante o indivíduo adulto.
O restauro disfarçou o rasgão, mas alterou as subtis tonalidades da pele do rosto retratado. Presente no espaço familiar, o retrato deste menino de seis anos tem desempenhado um papel silencioso: o olhar da criança, perante o indivíduo adulto.
RETRATO III
Verónica
tinha herdado o talento de fazer viver um rosto, uma expressão,
pela observação
atenta e pelo traço que resume
todo o mistério do ser, num
sorriso, num olhar.
Duas das suas obras mais notáveis são os retratos de sua irmã Joana P. Baptista, quando esta tinha oito anos e do
seu irmão, Eduardo Baptista, quando este tinha cerca de dez anos.
A Joana, tem o olhar fixado no longe; o olhar duma criança crescida, intensa, que procura o saber e a sabedoria.
O Eduardo, olha intensa e directamente para o observador, sorrindo. Seu olhar vai directamente ao encontro do nosso.
A Joana, tem o olhar fixado no longe; o olhar duma criança crescida, intensa, que procura o saber e a sabedoria.
O Eduardo, olha intensa e directamente para o observador, sorrindo. Seu olhar vai directamente ao encontro do nosso.
Murtal, 21 de Janeiro de 2018
Manuel Banet Baptista
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Sobre Édouard Honoré Gandon:
Sobre Verónica Oliveira Baptista:
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